sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Uma Homenagem ao nosso grande mestre, Carlos Drummond de Andrade



O Amor Bate na Aorta - Carlos Drummond de Andrade


Cantiga de amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.

Meu bem, não chores,
hoje tem filme de Carlito.

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.

Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.

Amor é bicho instruído.

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que corre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014


Pessoal, a Sintaxe é a parte da gramática que estuda a relação entre as palavras de uma oração ou entre as próprias orações de um período composto. Existem alunos que detestam essa parte da gramática, aqui vão algumas dicas para vocês aprenderem a gostar dessa parte da linguagem que é importantíssima, principalmente para que pretende fazer o ENEM.

 

Sintaxe do Período Simples

*Sujeito é o ser de quem se informa algo.
Ex.: “O homem velho  /me contou isso com espanto e desprezo”. (Rubem Braga)
*Predicado é a informação propriamente dita projetada sobre o sujeito.
Ex.: “O homem velho  /me contou isso com espanto e desprezo”. (Rubem Braga

Tipos de Sujeito:
- Sujeito determinado: quando se reconhece a existência do sujeito e o identifica na oração.
Ex.: “A Lua de Londres roubou meu noivo”.

O sujeito determinado pode ser subclassificado em:
Sujeito determinado simples: há apenas um núcleo.
Ex.: A manhã levantou-se nublada.
Sujeito determinado composto:
há mais de um núcleo.
Ex.: Pedro e Paulo foram ao mercado.

- Sujeito indeterminado: quando existe um elemento ao qual o predicado se refere, mas não é possível (ou não se quer) identificá-lo.
Ex: ( ? ) Falavam sobre você na reunião.
sujeito predicado

- Sujeito inexistente: quando a informação transmitida pelo predicado não se refere a sujeito algum, temos a oração sem sujeito, essa ocorre com verbos impessoais.
Ex: Choveu durante todo o dia.

Os verbos impessoais mais comuns são:
- haver: no sentido de existir, acontecer e quando indicam tempo passado.
Ex.: Houve poucos acidentes durante o terremoto.
- fazer: quando indicam tempo passado ou fenômeno da natureza.
Ex.: Faz dez dias que não te vejo.
- ser: quando indicam tempo e distância.
Ex.: É dia.
- todos os verbos que indicam fenômenos da natureza (chover, ventar, anoitecer, amanhecer, relampejar, trovejar, nevar, etc.)
Ex.: Trovejou durante a madrugada.
Nevou durante todo o dia.
 
Verbo Intransitivo (V.I): verbo que não precisa de complemento, pois já possui sentido completo.
Ex.: A chuva chegará mais cedo esse ano.
Verbo transitivo Direto (V.T.D): precisa de complemento (objeto direto) e exige um artigo.
Ex.: O cachorro ganhou uma coleira.
Verbo transitivo indireto (V.T.I): precisa de complemento (objeto indireto) e este vem com preposição.
Eu preciso muito de você.
Verbo de ligação (V.L): compõe o predicado nominal ou verbo-nominal e serve de ligação entre o sujeito e o predicativo do sujeito.
 

Ex.: A casa é aconchegante.
Obs.: Principais verbos de ligação ( ser, estar, permanecer, continuar, parecer, andar, ficar, tornar, etc)
Objeto direto : Para descobrirmos o objeto direto, sempre fazemos a pergunta ao verbo por meio de alguns termos, como: “O quê? Quem?”
Ex: Eu li a história.
Objeto Indireto: Para o objeto indireto, fazemos a pergunta ao verbo utilizando os termos: “De que? De quem? Em quê? Em quem? A quê? A quem
Ex: Eu acredito em você.

Obs.: Sempre o objeto indireto vem acompanhado de preposição
Existe ainda o objeto direto e indireto numa mesma oração:
Ex.: Eu emprestei o brinquedo/para meu amigo.
 
Complemento Nominal: como o próprio nome diz, completa o sentido de uma e não de verbos. Outro aspecto, também muito importante, é que ele sempre aparece ao lado de uma preposição, que também já conhecemos.
Complemento nominal do substantivo:
Ex.: Acredito que você tenha feito uma boa leitura do livro.
Complemento nominal do adjetivo:
Ex.: Precisamos ser sinceros com nossos amigos.
Complemento nominal do advérbio:
Ex.: Pedro mora perto da escola.
Aposto: é uma palavra ou expressão que explica ou que se relaciona com um termo anterior com a finalidade de esclarecer, explicar ou detalhar melhor esse termo.

Ex.: Manoel, português casado com minha prima, é um ótimo engenheiro.

Ex.: Foram eles, os meninos, que jogaram a bola no seu quintal ontem.
Há alguns tipos de apostos:
Explicativo: usado para explicar o termo anterior: Gregório de Matos, autor do movimento barroco, é considerado o primeiro poeta brasileiro.
Especificador: individualiza, coloca à parte um substantivo de sentido genérico: Cláudio Manuel da Costa nasceu nas proximidades de Mariana, situada no estado de Minas Gerais.
Enumerador: sequência de termos usados para desenvolver ou especificar um termo anterior: O aluno dever ir à escola munido de todo material escolar: borracha, lápis, caderno, cola, tesoura, apontador e régua.
Resumidor: resume termos anteriores: Funcionários da limpeza, auxiliares, coordenadores, professores, todos devem comparecer à reunião.
 
Vocativo: é a palavra, termo, expressão utilizada pelo falante para se dirigir ao interlocutor por meio do próprio nome, de um substantivo, adjetivo (característica) ou apelido.
Ex.: Amigos, vamos ao cinema hoje?
Ex.: Lindos, nada de bagunça no refeitório!



 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Pessoal, uma pausa para aprender sobre um gênero textual que eu adoro, a Crônica.

 
O que é Crônica

Crônica é uma narrativa histórica que expõe os fatos seguindo uma ordem cronológica. A palavra crônica deriva do grego "chronos" que significa "tempo". Nos jornais e revistas, a crônica é uma narração curta escrita pelo mesmo autor e publicada em uma seção habitual do periódico, na qual são relatados fatos do cotidiano e outros assuntos relacionados a arte, esporte, ciência etc.

Os cronistas procuram descrever os eventos relatados na crônica de acordo com a sua própria visão crítica dos fatos, muitas vezes através de frases dirigidas ao leitor, como se estivesse estabelecendo um diálogo. Alguns tipos de crônicas são a jornalística, humorística, histórica, descritiva, narrativa, dissertativa, poética e lírica. Uma crônica relata acontecimentos de forma cronológica e várias obras da literatura são designadas com esse nome, como por exemplo: Crônica de um Amor Louco (de Charles Bukowski) e Crônica de uma Morte Anunciada (da autoria de Gabriel García Márquez).

A crônica argumentativa consiste em um tipo mais moderno de crônica, no qual o cronista expressa o seu ponto de vista em relação a uma problemática da sociedade. Neste caso específico, a ironia e o sarcasmo são frequentemente usados como instrumento para transmitir uma opinião e abordar um determinado assunto.

Na crônica humorística, o cronista escreve o texto apresentando uma visão irônica e bem humorada dos acontecimentos. Na literatura brasileira, escritores brasileiros que se destacam neste tipo de narrativa são Fernando Sabino, Luis Fernando Verissimo, Millôr Fernandes. Alguns outros famosos cronistas são Arnaldo Jabor, Martha Medeiros, Rubem Braga, entre outros.

No contexto de relação com o tempo, surgem as chamadas "doenças crônicas", um indicativo de que tais doenças podem acompanhar o indivíduo ao longo da sua vida.

Veja um exemplo de uma Crônica:


A Última Crônica

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer um flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança:“assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e Estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno da mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho — um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de coca-cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno da mesa um pequeno ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a coca-cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos:“parabéns pra você, parabéns pra você…” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo, limpa o farelo de bolo que lhe cai no colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

(Fernando Sabino. In: Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1979-1980.

 

Interpretação

01) Que tipo de narrador o texto “A última crônica” apresenta?

(    ) narrador personagem      (    ) narrador observador

02)Retire do primeiro parágrafo as informações abaixo:

a) Quem entra no botequim?

b) Onde fica o botequim?

c) Em primeiro lugar, entra no botequim para quê?

d) Na verdade, o que ele faz nesse lugar?

e) O que ele deseja?

3)Em que parte do texto, o autor afirma que os homens do seu tempo são o assunto de suas crônicas?

4)Qual é a cena que o autor vê? Quais são os personagens que dela participam?

5) Há no texto uma passagem que denota claramente a pobreza dos personagens. Qual? Comente-a.

6) Que sentimentos o autor expressa para com a personagem-menina, ao usar os diminutivos - arrumadinha, negrinha, menininha, fitinha -? Qual será a intenção do autor?

7)Qual a passagem do texto que mostra o desprezo do dono do botequim para com a família?

8)O que a passagem acima relacionada suscitou em você?

9) Comente a última frase do penúltimo parágrafo.

10) Que tipos de sentimento este texto despertou em você?

11) Qual a mensagem que este texto trouxe?

12) Como você explicaria o último parágrafo?

13) Por que esse texto se classifica como uma crônica?

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014


Linguagem coloquial e culta

 

Os dois grandes níveis de fala, o coloquial e o culto, são determinados pela cultura e pela formação escolar dos falantes, pelo grupo social a que eles pertencem e pela situação concreta em que a língua é utilizada. Um falante adota modos diferentes de falar dependendo das circunstâncias em que se encontra: conversando com amigos, expondo um tema histórico na sala de aula ou dialogando com colegas de trabalho.

 


 
Língua e fala
A língua, segundo o linguista Ferdinand de Saussure, 'é a parte social da linguagem', isto é, ela pertence a uma comunidade, a um grupo social – a Língua Portuguesa, a Língua Chinesa. A fala é individual, diz respeito ao uso que cada falante faz da língua. Nem a língua nem a fala são imutáveis. Uma língua evolui, transformando-se foneticamente, adquirindo novas palavras, rejeitando outras. A fala do indivíduo modifica-se de acordo com sua história pessoal, suas intenções e sua maior ou menor aquisição de conhecimentos.

Nível culto
O nível culto é utilizado em ocasiões formais. É uma linguagem mais obediente às regras gramaticais da norma culta. O nível culto segue a língua padrão, também chamada norma culta ou norma padrão. Constitui, em suma, a língua utilizada pelos veículos de comunicação de massa (emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de serem aliados da escola, prestando serviço à sociedade, colaborando na educação, e não justamente o contrário;
 
 
Nível coloquial
O nível coloquial ou popular é utilizado na conversação diária, em situações informais, descontraídas. É o nível acessível a qualquer falante e se caracteriza por expressividade afetiva, conseguida pelo emprego de diminutivos, aumentativos, interjeições e expressões populares:
 
Ex.: É só uma mentirinha, vai!
Você me deu um trabalhão, nem te conto!

 

Gíria

É uma variante da língua, falada por um grupo social ou etário. É a fala mais variável de todas, pois as expressões entram e saem 'da moda' com muita frequência, sendo substituídas por outras. Algumas se incorporam ao léxico, dando origem a palavras derivadas. É o caso de dedo-duro, que deu origem a dedurar.