sábado, 21 de fevereiro de 2015

O Romantismo 

Para entender melhor essa importante Escola Literária, vamos analisar um fragmento da obra Iracema, escrita por José de Alencar.

Iracema


Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
 Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
Iracema saiu do banho: o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a contemplá-la está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida.
O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.
A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada. O guerreiro falou:
— Quebras comigo a flecha da paz?

— Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu?
— Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus.
— Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.

01-    O romance foi publicado em 1865, mas a narrativa não se passa no século XIX e sim num passado distante, como se comprova pelo primeiro parágrafo do texto. O indígena que aparece nos romances românticos não é o contemporâneo dos escritores, mas o índio que viveu aqui no início da colonização, Iracema representa essa raça. Por que Alencar situou sua narrativa num passado remoto?

02-    Os parágrafos 5, 6 e 7 são narrativos. Neles, apresenta-se uma situação de equilíbrio.
a)      Que fato rompeu esse equilíbrio?
b)      Como reagiu Iracema diante do fato?
c)      Qual foi a reação de Iracema depois de ter flechado o guerreiro branco?

03-    Copie da fala final de Iracema a expressão que indica o retorno do equilíbrio entre ela e o guerreiro branco.

04-    Ao descrever Iracema, o narrador recorre a comparações com elementos da natureza. Continue, como no exemplo, identificando o segundo termo da comparação em cada um dos casos:
Ex.: cor dos cabelos – asas da graúna
a)   Corpo de Iracema
b)   Doçura do sorriso
c)   Perfume do hálito
d)   Agilidade de Iracema
e)   Voz de Iracema

05- Que gesto demonstra o caráter nobre de Iracema?

06- Muitos vocábulos do texto são do tupi-guarani, uma das línguas faladas pelos nossos indígenas. Transcreva os vocábulos correspondentes a:
a)   Arara
b)   Cesto de palha
c)   Planta que fornece fibra para tecidos

07- Identifique as principais características do Romantismo do fragmento:

  

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